Escolher o nome de uma criança
não é nada fácil. Recentemente, antes do meu sobrinho nascer, em uma conversa
em Goiânia, foram sugeridos vários nomes. Ricardo e Fernando, por serem da área
da Saúde, propuseram um nome de um osso, como trapézio ou perônio, já não me
recordo com certeza, enquanto eu dizia que nomes simples eram mais bonitos. A
cara dos pais transmitia a seguinte informação: nós vamos escolher, fiquem
tranqüilos. (risos) Tive a honra de ter recebido um nome muito bonito, principalmente
pela explicação que me deram de onde havia surgido, e ser Mar de Maria e Iza de
Izaias. Dar nome a alguém é uma coisa muito forte, sensível e significativa. O
nome acaba sendo a gente e a gente acaba sendo o nosso nome. O nome é a nossa
identidade.
Uma das dimensões mais bonitas da
fé cristã é que Deus nos chama pelo nome. Ele o faz com naturalidade e
determinação e num tom que toca o mais íntimo de nosso ser e mexe com as áreas
mais profundas da vida. Quando Deus pronuncia nosso nome, sabemos que Ele está
falando conosco.
Deus nos chama para ser dEle
(Marcos 3: 13-19) Este texto
sintetiza a vocação dos discípulos e o que eles deveriam fazer enquanto andavam
com Jesus e em continuidade ao ministério dele. Curiosamente, o evangelista dedica
a maior parte do texto a enumerar os nomes dos discípulos; e o faz com detalhes
que nos permitem saber, por exemplo, que havia dois Tiagos no grupo – um filho
de Zebedeu e outro, de Alfeu.
Tenho uma dificuldade enorme em
guardar nomes. Volta e meia me deparo com alguém que me chama pelo nome e eu,
constrangida, não consigo lembrar o seu. É horrível! (risos) Porém, Deus nunca
viveu tal situação de embaraço. Ele sabe não apenas o nosso nome, mas também de
quem somos filhos; sabe os detalhes de nossa vida e as marcas que a emolduram.
A forma como Jesus trata seus discípulos reflete como Deus trata cada um de
nós, independente de cultura, tradição ou classe social. Alguns dos nomes
citados por Marcos vêm acompanhados de descrições específicas. Os irmãos Tiago
e João passam a ser “os filhos do trovão”. Um Simão passa a ser Pedro e outro
identificado como “Cananita”. E Judas Iscariotes... Bem, este nunca mais se
livrou da pecha de traidor e da lembrança daquele beijo no Getsêmani.
Cada um desses discípulos, com
suas peculiaridades, é convidado a estar com Jesus. É convidado a descansar os
pés e a alma, a recuperar força e alento e a descobrir um profundo sentido de
vida na companhia daquele que carrega o perfume de Deus, sorri e abraça com os
olhos, acolhe os medos mais profundos e reorienta os passos mais confusos. Pelo
nome, ele nos chama para sermos dele e nos convida a viver em sua presença.
Haverá lugar melhor para se viver?
Deus nos chama para servi-lo
Ouvir o nosso nome pronunciado
por Jesus gera mudança de vida. Quando ele chama, não há outra alternativa
senão segui-lo. O evangelista Mateus descreve a vocação dos discípulos em
termos marcantes. Caminhando junto ao mar, Jesus encontra Simão, André, Tiago e
João e simplesmente lhes diz que devem segui-lo, pois fará deles “pescadores de
homens”. E eles, “no mesmo instante, deixando o barco e seu pai, o seguiram”. (Mateus
4:18-22).
No relato de Marcos (2: 13-14),
Jesus está novamente junto ao mar, e ao ver Levi sentado na coletoria de
impostos, simplesmente lhe diz: Segue-me! E ele se levantou e o seguiu.
O chamado para seguir a Jesus é
radical. Cada um dos discípulos poderia testificar do quanto sua vida mudou
desde que ouviu tal chamado. E um chamado que não aceita delongas e não
trabalha com a alternativa da negação. O chamado de Saulo é outro exemplo
dramático disso. Antes mesmo de entender o que está acontecendo, ele já escuta
a voz que o chama pelo nome e o convoca para uma missão com a qual nunca havia
sonhado, em Atos 9:4-5: “Saulo, Saulo, por que me persegues?”. E então vem o
veredicto: “Eu sou Jesus, a quem tu persegues; mas levanta-te e entra na
cidade, onde te dirão o que te convém fazer”. E foi isso que Paulo fez, com
zelo e alegria, até o final da vida. E ao ver aproximar-se o fim, ele diz ter
combatido o bom combate e completado a carreira, uma carreira. Esta o
reorientou, dignificou e encheu de sentido sua existência.
Deus nos chama para viver com ele
A verdade é que Jesus não nos
chama para executar uma tarefa, mas para uma mudança de vida, uma vida honrada
pelo fato de sermos conhecidos e amados por Deus. Aliás, é tentador e até
perigoso nos concentrarmos unifocalmente na tarefa recebida. Há no evangelho de
Lucas uma bonita passagem que retrata essa realidade. Quando Jesus envia setenta
discípulos para uma experiência missionária, eles voltam fascinados com as
experiências que haviam vivido. Lucas 10:17. E em ressonância ao compartilhar
dos discípulos, Jesus muda o foco da conversa e dirige a atenção deles não para
a tarefa bem executada, mas para o fato de que seus nomes estão “arrolados nos
céus”, Lucas 10: 18-20.
Uma história que começou de forma
tão simples, às margens do mar da Galiléia, onde a vida de alguns pescadores
foi tocada e transformada por Deus de forma inimaginável, termina assim: com os
seus nomes inscritos no coração de Deus. Diante de uma vocação assim é melhor
fazer como Levi fez: “Ele se levantou e o seguiu”.
Não esqueça sua parte: Levanta a bandeira! Libera o grito!