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terça-feira, 6 de março de 2012

Chamados pelo nome

Escolher o nome de uma criança não é nada fácil. Recentemente, antes do meu sobrinho nascer, em uma conversa em Goiânia, foram sugeridos vários nomes. Ricardo e Fernando, por serem da área da Saúde, propuseram um nome de um osso, como trapézio ou perônio, já não me recordo com certeza, enquanto eu dizia que nomes simples eram mais bonitos. A cara dos pais transmitia a seguinte informação: nós vamos escolher, fiquem tranqüilos. (risos) Tive a honra de ter recebido um nome muito bonito, principalmente pela explicação que me deram de onde havia surgido, e ser Mar de Maria e Iza de Izaias. Dar nome a alguém é uma coisa muito forte, sensível e significativa. O nome acaba sendo a gente e a gente acaba sendo o nosso nome. O nome é a nossa identidade.
Uma das dimensões mais bonitas da fé cristã é que Deus nos chama pelo nome. Ele o faz com naturalidade e determinação e num tom que toca o mais íntimo de nosso ser e mexe com as áreas mais profundas da vida. Quando Deus pronuncia nosso nome, sabemos que Ele está falando conosco.

Deus nos chama para ser dEle
(Marcos 3: 13-19) Este texto sintetiza a vocação dos discípulos e o que eles deveriam fazer enquanto andavam com Jesus e em continuidade ao ministério dele. Curiosamente, o evangelista dedica a maior parte do texto a enumerar os nomes dos discípulos; e o faz com detalhes que nos permitem saber, por exemplo, que havia dois Tiagos no grupo – um filho de Zebedeu e outro, de Alfeu.
Tenho uma dificuldade enorme em guardar nomes. Volta e meia me deparo com alguém que me chama pelo nome e eu, constrangida, não consigo lembrar o seu. É horrível! (risos) Porém, Deus nunca viveu tal situação de embaraço. Ele sabe não apenas o nosso nome, mas também de quem somos filhos; sabe os detalhes de nossa vida e as marcas que a emolduram. A forma como Jesus trata seus discípulos reflete como Deus trata cada um de nós, independente de cultura, tradição ou classe social. Alguns dos nomes citados por Marcos vêm acompanhados de descrições específicas. Os irmãos Tiago e João passam a ser “os filhos do trovão”. Um Simão passa a ser Pedro e outro identificado como “Cananita”. E Judas Iscariotes... Bem, este nunca mais se livrou da pecha de traidor e da lembrança daquele beijo no Getsêmani.
Cada um desses discípulos, com suas peculiaridades, é convidado a estar com Jesus. É convidado a descansar os pés e a alma, a recuperar força e alento e a descobrir um profundo sentido de vida na companhia daquele que carrega o perfume de Deus, sorri e abraça com os olhos, acolhe os medos mais profundos e reorienta os passos mais confusos. Pelo nome, ele nos chama para sermos dele e nos convida a viver em sua presença. Haverá lugar melhor para se viver?

Deus nos chama para servi-lo
Ouvir o nosso nome pronunciado por Jesus gera mudança de vida. Quando ele chama, não há outra alternativa senão segui-lo. O evangelista Mateus descreve a vocação dos discípulos em termos marcantes. Caminhando junto ao mar, Jesus encontra Simão, André, Tiago e João e simplesmente lhes diz que devem segui-lo, pois fará deles “pescadores de homens”. E eles, “no mesmo instante, deixando o barco e seu pai, o seguiram”. (Mateus 4:18-22).
No relato de Marcos (2: 13-14), Jesus está novamente junto ao mar, e ao ver Levi sentado na coletoria de impostos, simplesmente lhe diz: Segue-me! E ele se levantou e o seguiu.
O chamado para seguir a Jesus é radical. Cada um dos discípulos poderia testificar do quanto sua vida mudou desde que ouviu tal chamado. E um chamado que não aceita delongas e não trabalha com a alternativa da negação. O chamado de Saulo é outro exemplo dramático disso. Antes mesmo de entender o que está acontecendo, ele já escuta a voz que o chama pelo nome e o convoca para uma missão com a qual nunca havia sonhado, em Atos 9:4-5: “Saulo, Saulo, por que me persegues?”. E então vem o veredicto: “Eu sou Jesus, a quem tu persegues; mas levanta-te e entra na cidade, onde te dirão o que te convém fazer”. E foi isso que Paulo fez, com zelo e alegria, até o final da vida. E ao ver aproximar-se o fim, ele diz ter combatido o bom combate e completado a carreira, uma carreira. Esta o reorientou, dignificou e encheu de sentido sua existência.

Deus nos chama para viver com ele
A verdade é que Jesus não nos chama para executar uma tarefa, mas para uma mudança de vida, uma vida honrada pelo fato de sermos conhecidos e amados por Deus. Aliás, é tentador e até perigoso nos concentrarmos unifocalmente na tarefa recebida. Há no evangelho de Lucas uma bonita passagem que retrata essa realidade. Quando Jesus envia setenta discípulos para uma experiência missionária, eles voltam fascinados com as experiências que haviam vivido. Lucas 10:17. E em ressonância ao compartilhar dos discípulos, Jesus muda o foco da conversa e dirige a atenção deles não para a tarefa bem executada, mas para o fato de que seus nomes estão “arrolados nos céus”, Lucas 10: 18-20.
Uma história que começou de forma tão simples, às margens do mar da Galiléia, onde a vida de alguns pescadores foi tocada e transformada por Deus de forma inimaginável, termina assim: com os seus nomes inscritos no coração de Deus. Diante de uma vocação assim é melhor fazer como Levi fez: “Ele se levantou e o seguiu”.


Não esqueça sua parte: Levanta a bandeira! Libera o grito!

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